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A história e os governantes corruptos

Leia artigo de opinião publicado na edição deste sábado do Jornal do Povo

Por Jacir Venturi
11/06/2016 • 09h06
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Os governantes que implementam medidas impopulares – embora benéficas para o futuro – são alvos de agressões, isolamento e críticas. Encontram uma resistência feroz por parte de muitos e o apoio tíbio de uns poucos. São os estadistas, que vão além do seu tempo e forçam passagem em meio a uma maioria reivindicadora. “Ainda não descobri a maneira infalível de governar. Mas aprendi a fórmula certa de fracassar: querer agradar a todos, ao mesmo tempo” – discursava apropriadamente John F. Kennedy.

Confortam-se com o dever cumprido e com o julgamento da posteridade. Sim, a história – essa “juíza imparcial” – repara injustiças, mas tem o péssimo hábito de andar devagar. É notório o gap entre o aplauso de um tempo atual e aplauso da história. Em contrapartida, a demagogia, o assistencialismo e o populismo seduzem o líder míope como o canto da sereia. Nesse mister, se faz oportuno Roberto Campos: “Nas veias dos demagogos não corre o leite da ternura humana e sim o vinagre da burrice ou o veneno da hipocrisia”. Na América Latina, há três modelos de governos populistas que deixaram como legado o caos econômico, a desesperança, a frouxidão moral e a meritocrática: chavismo, peronismo e lulopetismo.

No Brasil, qual presidente se circunstanciou das condições mais favoráveis para ascender ao pódio de maior estadista deste país? Sim, Lula! Aprovação popular que beirou os 80%, bela trajetória de vida e superação, maioria absoluta no Congresso, oposição desarticulada e enfraquecida, comércio internacional favorável pelo preço das commodities. Ademais, sucedeu um governo que deixou bons fundamentos macroeconômicos e controle fiscal. Ou seja, um ecossistema propício para as necessárias reformas política, previdenciária, trabalhista, tributária. A maior herança de um governante é o apoio a um (a) candidato (a) para sucedê-lo. Indicou Dilma e deu no que deu.

Mas Lula se deixou fascinar pelo aplauso do seu tempo, bem sabendo que implementar as necessárias reformas seria enfrentar insatisfações. Faltou-lhe a postura como a de Abraham Lincoln – até hoje o mais venerado presidente dos EUA –, que em meio às vicissitudes do cargo costumava repetir que, se fosse responder a todas as críticas e ofensas que lhe eram direcionadas, não trataria de mais nada. E deixou como legado uma frase tantas vezes reiterada: “Você pode enganar todo o povo durante algum tempo e parte do povo durante todo o tempo, mas não pode enganar todo o povo todo o tempo”. Winston Churchill, celebrado como o maior estadista do século 20, ao assumir o Governo de coalizão em 1940 proferiu seu célebre discurso, nada prometendo além de trabalho, suor e lágrimas.

Estamos vivenciando uma das fases mais graves da nossa história, com a imbricação de três crises simultâneas: política, econômica e ética. O atual governo e o Congresso têm o dever cívico e institucional de oferecer um norte, enquanto nós cidadãos devemos compreender que não há solução fácil e de curto prazo.

Austeridade fiscal para o equilíbrio das contas públicas e para manter a sanidade da nossa moeda – eis uma receita amarga, porém imprescindível. Henrique Meirelles, como líder de uma equipe de notáveis, tem competência e credibilidade para as medidas necessárias. Ao presidente Temer – que conhece todos os escaninhos do Congresso – cabe uma pertinaz interlocução com deputados e senadores para a aprovação das imprescindíveis reformas. À Polícia Federal e ao Judiciário, que investiguem e julguem os malfeitos, restabelecendo os valores republicanos. E ao PT? Antes de voltar ao seu histórico papel de oposição, que faça uma honesta autocrítica.

Os nossos fundamentos econômicos, democráticos e éticos estão passando por uma prova de fogo. Mas cremos que o Brasil sairá desta crise fortalecido com a defenestração de governantes e políticos populistas, corruptos e gastadores, pois geram miséria, lassidão moral e infelicitam toda uma nação.

 

* É professor universitário.

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