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Guerras no Brasil

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10/06/2017 • 11h44
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Costumo almoçar no shopping em mesa com amigos, entre os quais um jovem universitário de 24 anos, Adriano, estagiário de Direito. Ontem ele me perguntou se eu saberia alguma coisa sobre uma certa bomba no Aeroporto de Guararapes, no Recife. Fiquei surpreso com a pergunta, pois imaginei que todo brasileiro soubesse daquele fato, que marcou o início do terror no Brasil. Era uma bomba para matar o Ministro do Exército, Costa e Silva, em 1967, mas matou um jornalista, Édson Régis de Carvalho, um almirante reformado, Nélson Gomes Fernandes, arrancou quatro dedos a mão do general Syvio Ferreira da Silva e a perna do ex-artilheiro do Santa Cruz, conhecido como “o Canhão do Arruda”, Sebastião Thomaz de

Aquino, que morreu na semana passada. 
A partir de então, entraram em atividade grupos que já se preparavam desde 1961. Da bomba no Guararapes à bomba do Riocentro, em 1980, houve guerrilha rural e guerra revolucionária urbana. Fernando Gabeira, um dos sequestradores do Embaixador dos Estados Unidos, conta que o objetivo era implantar no Brasil uma ditadura tipo Cuba. No livro Dos Filhos deste Solo, Nilmário Miranda, militante e Secretário de Direitos Humanos de Lula, calcula em 364 o número de mortos do lado dos terroristas e guerrilheiros. Entre empresários, civis, militares e policiais, os mortos foram cerca de 120. O que dá 484 mortos em 13 anos de guerra interna. Exatos três dias de assassinatos na guerra do Brasil de hoje.

O Atlas da Violência, recém divulgado com base em números de 2015 mostra que foram 59.080 os assassinatos naquele ano. Certamente abaixo do número real, pois se sabe, por exemplo, que muitos registros de afogamento encobrem homicídios. O número vem crescendo, e hoje deve passar de 60 mil por ano. O que dá 164 mortos por dia. Dos homicídios no mundo inteiro, o Brasil entra com 11% e é campeão.

A taxa relativa de homicídios mais alta está no Nordeste. A mais baixa em São Paulo. Ganhamos longe do Estado Islâmico ou da guerra na Síria, mas enquanto nos ocupávamos em noticiar sete mortos a facadas na Ponte de Londres, naquele dia tínhamos no mínimo 20 vezes isso em número de homicídios.
Assim como os jovens desconhecem a história de uma guerra interna contemporânea no Brasil, parece que não nos importamos com a matança atual. Aquela guerra teve média de 37 mortos por ano; agora são 60 mil.

O governo desarmou as pessoas, tirando-lhes o direito à legítima defesa, mas não dá segurança nem desarmou os bandidos. Só deu a eles tranquilidade de que não haverá reação. E quando há reação da polícia, ela é duramente criticada. Na guerra de hoje, o medo nos tira a liberdade e a alienação nos tira a cidadania.

 

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