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Três Lagoas, 25 de abril

'Cortar recurso de pesquisa é atraso'

Presidente do Conselho de Reitores do Estado diz que medidas atingem Mato Grosso do Sul, principalmente na área de saúde

Por Loraine França
19/08/2018 • 07h30
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A possibilidade de cortes nos orçamentos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) gera repercussões no país. A redução dos investimentos no CNPq - principal agência de fomento à pesquisa científica no país -, cairia de R$ 1,2 bilhão para R$ 800 milhões.  A Capes enviou carta ao ministro da Educação, Rossieli Soares, informando que o corte resultaria na suspensão de 93 mil bolsas de pesquisadores e alunos de pós-graduação, em 2019. Outras 195 mil bolsas de pesquisas na educação básica também seriam atingidas. Para entender os reflexos disso, o presidente do Conselho de Reitores das Instituições de Ensino Superior de Mato Grosso do Sul, Fábio Edir dos Santos Costa, aponta impactos que o Estado terá com a diminuição dos recursos para ás áreas da ciência, tecnologia e inovação.

Jornal do Povo - Como serão os impactos dos cortes de verbas para Mato Grosso do Sul?
Fábio Edir dos Santos Costa -
Na área de saúde. Mato Grosso do Sul tem as universidades e uma fundação que é referência nacional, que é a Fiocruz. O Estado é referência nacional nas questões da dengue e chikungunya. Imagine o que teria sido há dois anos, nas discussões do zyka vírus, quando houve uma epidemia nacional. Nós já tivemos várias crianças que nasceram com microcefalia e foi uma verdadeira crise, uma insegurança, principalmente, para aquelas mães que estavam grávidas naquele período. Mas, o Brasil conseguiu dar uma resposta no curto espaço de tempo e graças à pesquisa, a ciência, a tecnologia, aos recursos que foram investidos. 

JP - As pesquisas foram importantes para frear o avanço da epidemia?
Fábio -
Eu digo que se não fosse esses recursos investidos naquele momento, o cenário que nós teríamos das nossas crianças e das mães, com certeza, a preocupação nessas famílias, a estrutura da sociedade brasileira poderia ser outra ou estaríamos vivendo um caos ainda maior se a gente não tivesse o investimento da ciência e tecnologia e não tivesse pesquisadores competentes, qualificados e que tivessem à disposição para dar uma resposta rápida e imediata a serviço da saúde da população brasileira.

JP - Esses cortes são, portanto, um retrocesso?
Fábio - 
Sim. Com certeza. Se você tem cortes nos investimentos em tecnologia é um retrocesso. Pois, você não só estagna a geração do conhecimento, mas, anda para trás. Por que você retrocede no conhecimento? A velocidade do conhecimento, hoje, a produção do conhecimento mundial e em níveis nacionais, a gente sabe que tem uma estimativa, e também por aquilo que a gente vive hoje, acredita-se que mais de 50% das novas profissões dos próximos 10 a 15 anos, elas ainda não foram inventadas. 

JP - Em termos de formação de profissional de pesquisas é preciso tempo?
Fábio -
Nós não sabemos qual será a demanda do novo profissional no prazo de 10 a 15 anos. Se você entende que nós temos um aluno, ele ingressa na universidade hoje, ele vai passar pelo menos quatro, cinco, seis anos para se formar e, a única certeza que nós temos é que, daqui cinco anos, o cenário será diferente. E bastante diferente daquilo que a gente está ingressando hoje. Quem dirá, ainda, pelos próximos dez anos. Então, se você não investe hoje, como você vai dar as respostas para o mercado? Não é nem só questão de mercado. Mas as respostas que a sociedade vai precisar nos próximos dez anos. Então, se a gente não conseguir, pelo menos manter o nível que a gente tem hoje de produção de conhecimento, eu falo que a gente pode viver um caos aqui nos próximos anos.

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